
Itaúna: polo industrial tem belos pontos de visitação e contato com a natureza na bacia do Rio Pará
Na língua Tupi-Guarani, Itaúna significa “pedra negra”. Segundo historiadores, essa é uma das hipóteses para explicar o nome da cidade. Por lá, para onde quer que se olhe, vemos imagens que nos ajudam a entender o porquê. Em meio à vegetação que cobre os morros que cercam a cidade, o solo rochoso escuro se revela.
É desse solo rochoso e escuro, das “pedras negras”, que vem uma das principais riquezas de Itaúna. A cidade, localizada no Baixo Rio Pará, integra o Quadrilátero Ferrífero, uma área de aproximadamente 7mil km², abrangendo vários municípios, reconhecida internacionalmente devido ao terreno rico em recursos minerais, como ouro, ferro e basalto. Devido a esse potencial, diversas indústrias de fundição se instalaram em Itaúna e o setor responde por boa parte da economia da cidade.
Sua formação data de 1877. Com a criação de uma agência do correio, fez-se o primeiro movimento para a criação da vila de Itaúna. Em 1901, o Conselho Distrital assinou um apelo dirigido à Assembleia, transformado na lei nº 319, que emancipou o município, separando-o de Pará de Minas. A vila de Itaúna foi elevada à categoria de cidade em 1915, e de Comarca em 1925.
Hoje, Itaúna tem cerca de 98 mil habitantes e é um dos principais municípios da região Centro-Oeste de Minas Gerais. É conhecida como Cidade Educativa do Mundo, título conferido pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) em 1975.
Além da fundição, a natureza e a história são outras riquezas locais. O município é cortado pelo Rio São João, um importante afluente da bacia do Pará. Apesar do crescimento urbano e industrial vertiginoso recente, é possível encontrar belas paisagens no município.
Capela Nossa Senhora do Rosário foi a primeira igreja erguida em Itaúna, por volta de 1750.
Fé e natureza
A praça da Igreja Matriz de Santana, bem no centro de Itaúna, é outro ponto marcante na cidade. Em meio aos prédios, um refúgio da natureza, com muitas árvores. O visitante disposto a fazer uma pequena caminhada pode esticar o passeio até a Capela Nossa Senhora do Rosário, no alto de um morro, a cerca de 700 metros da praça. A primeira igreja erguida em Itaúna, por volta de 1750, é um dos cartões postais do município.
Para quem gosta de contato com a natureza, a cerca de 8 km do centro da cidade fica a Barragem do Benfica, uma represa do Rio São João com 40 milhões de metros cúbicos de água. Um local de beleza natural única, ponto ideal para prática de esportes náuticos e que também desempenha a função de regular a vazão do rio. “É um dos meus lugares preferidos em Itaúna. Bom para descansar a cabeça e apreciar a paisagem. E me remete muito à infância, quando costumava vir para cá com meus amigos e com a família para ver a barragem. Uma imensidão de água impressionante”, comenta Samuel Rodrigues, empresário, nascido e criado em Itaúna.
Nos arredores da cidade, é possível encontrar algumas cachoeiras e pontos para contemplar a beleza dos rios que passam pela região. Uma das mais conhecidas é a Cachoeira dos Campos, a aproximadamente 18km do centro de Itaúna. Para conhecer, o visitante passa por uma trilha em meio às arvores, no povoado dos Campos, até chegar à cascata. “É um lugar maravilhoso com muitas matas e um pequeno riacho que, ao correr entre as pedras, forma várias lindas e pequenas cascatas. Um lugar de muita paz, bem perto da área urbana”, descreve o fotógrafo Adilson Nogueira.
A Cachoeira das Borboletas, próximo ao povoado Córrego do Soldado, também é bastante procurada por banhistas. Depois de uma pequena caminhada por uma trilha, o visitante se encanta com a queda d’água. Para visitar, a orientação é seguir pela MG-431, em direção a Itatiaiuçu. Depois da entrada para a barragem do Benfica, entrar à direita na estrada para Córrego do Soldado.
Memória preservada
A praça da Igreja Matriz de Santana, bem no centro de Itaúna, é outro ponto marcante na cidade. Em meio aos prédios, um refúgio da natureza, com muitas árvores. O visitante disposto a fazer uma pequena caminhada pode esticar o passeio até a Capela Nossa Senhora do Rosário, no alto de um morro, a cerca de 700 metros da praça. A primeira igreja erguida em Itaúna, por volta de 1750, é um dos cartões postais do município.
A fachada da Capela, pintada de branco e azul, guarda os traços tradicionais da época em que a igreja foi construída. Em 2014, o local passou por um grande processo de restauração, conduzido pelo Instituto Yara Tupynambá. “No ano passado, restauramos 70 imagens sacras e as colocamos em exposição no Museu Municipal, compondo a “Religare”, exposição que conta a vasta cultura religiosa de Itaúna através das peças do acervo do Museu. Nesse mesmo ano, desenvolvemos ações de Educação Patrimonial com aproximadamente 2,3 mil alunos das redes públicas e privadas da cidade”, destaca Filipe Abner, chefe do núcleo do Museu Municipal de Itaúna.
A religiosidade é um ponto marcante e que atrai muitos visitantes a Itaúna. Além da Capela do Rosário e das imagens sacras preservadas, a cidade mantém vivas tradições importantes, como a montagem dos tapetes de Corpus Christi. “A confecção dos tapetes de Corpus Christi é hoje um patrimônio imaterial tombado da cidade. Também temos outras tradições fortes e marcantes, como a Festa de Nossa Senhora do Rosário, que atrai muitos turistas para acompanhar as oito guardas de congado. Arte e cultura têm um poder transformador na vida das pessoas, além de serem importantes fontes de trabalho e renda”, comenta Bel de Abreu, fundadora da Associação Projeto Usina dos Sonhos e que, há mais de 30 anos, está envolvida com projetos culturais em Itaúna.
A cidade ainda mantém alguns casarões históricos, como o que abriga a Biblioteca Pública Municipal e o da sede do Museu Francisco Manoel Franco. Na cultura, são vários artistas da terra, com projetos de dança e teatro. “Fazemos questão de valorizar nossas belas paisagens, além das igrejas e casarões históricos. Realizamos projetos de Educação Patrimonial, em que guiamos empresas, escolas e grupos interessados em um verdadeiro tour por esses patrimônios, contando o histórico e valorizando a memória de Itaúna. Essas construções ajudam a recontar e preservar nosso passado”, comenta Filipe.
Capela Nossa Senhora do Rosário foi a primeira igreja erguida em Itaúna, por volta de 1750.
Desafios
Olhando para o futuro, Itaúna ainda encontra vários desafios. A cidade é uma das maiores da região do Baixo Pará. O Rio São João, importante afluente da bacia, guarda belezas naturais, mas também muitos problemas. “Sou da época em que ainda era possível nadar no Rio São João, na década de 1970. Mas, hoje, o rio recebe rejeitos domésticos e está poluído. Além disso, enfrentamos problemas com o assoreamento, destruição de nascentes e mata ciliar”, destaca Varlei Marra, representante do Sindicato das Indústrias de Metalurgia de Itaúna e conselheiro do CBH do Rio Pará.
Até pouco tempo atrás, todo esgoto doméstico produzido pelos moradores de Itaúna era despejado diretamente no Rio São João. A situação só começou a mudar em setembro do ano passado, com a inauguração da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do município. A estrutura tem capacidade de processar 400 litros de esgoto por segundo. Porém, segundo o SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) de Itaúna, um ano após a inauguração, a ETE opera com 150 litros por segundo – ou seja, menos da metade do que foi projetado. Algumas regiões do município nem sequer possuem coleta de esgoto.
A recuperação do Rio São João é o principal desafio ambiental de Itaúna. Tanto ele, quanto seus córregos afluentes, estão bastante assoreados. Em épocas de chuva forte, os rios transbordam e alagam importantes ruas e avenidas, causando muito prejuízo à população. A destruição da vegetação na área urbana também preocupa. “É visível que o Rio São João está perdendo volume de água com o passar do tempo. Antigamente havia uma área aqui em Itaúna conhecida como Usina do Caixão, onde as pessoas vinham nadar e se divertir. Mas depois que o rio começou a receber esgoto doméstico isso acabou. E o nível de água do rio foi diminuindo devido ao assoreamento. Pra piorar, centenas de árvores da mata ciliar foram cortadas durante os trabalhos da prefeitura para tentar resolver o problema do assoreamento, mas depois a vegetação não foi substituída. Isso aconteceu tanto no Rio São João quanto nos afluentes, como o Ribeirão dos Capotos e o Ribeirão Joanica”, afirma Varlei.
Museu Municipal de Itaúna recebe 2,3 mil alunos por ano em ações de Educação Patrimonial.
O CBH do Rio Pará é parceiro do município de Itaúna. Em 2023, a cidade foi um dos pontos de passagem da Expedição pela bacia do Rio Pará promovida pelo Comitê. “Estamos trabalhando no CBH para tentar encontrar soluções para esses problemas e devolver a vida ao Rio São João, que é tão importante para a cidade e a região. São muitos obstáculos, mas o potencial é imenso e podemos mudar essa realidade”, complementa Varlei.
Itaúna fica a cerca de 80km de Belo Horizonte. O visitante que sai da capital pode seguir pela BR-262 até Juatuba e, em seguida, pela MG-050 até a cidade. Outra opção de trajeto é saindo da capital pela BR-381 até Itatiaiuçu e, depois, pela MG-431 até Itaúna.
Assessoria de Comunicação do CBH do Rio Pará:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Ricardo Miranda