Em seu oitavo dia de jornada, a Expedição ‘Esse Rio é Meu’, promovida pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará, chegou a Bom Despacho nesta quarta-feira (17). Como marco símbolo da chegada da caravana, um Ipê-Branco foi plantado na praça principal da cidade, a Praça da Matriz, ao lado da Igreja Matriz da Nossa Senhora do Rosário. A programação também contou com apresentações de capoeira e uma Roda de Conversa junto a representantes da Comissão Gestora Local (CGL) do Rio Picão e outras lideranças.

Membros da Expedição chegaram cedo à Praça da Matriz, onde foram recebidos pela vice-prefeita de Bom Despacho, Juliana Jaber, e a sua equipe, pelo Secretário de Meio Ambiente do município, Tiago Freitas, por membros do Grupo Escoteiro de Bom Despacho (88GEBD) e pela Polícia Militar Ambiental. Como forma de eternizar e homenagear a passagem da expedição por Bom Despacho, uma muda de Ipê-Branco foi plantada na praça.

Logo após este momento, a comitiva seguiu para o auditório da Câmara Municipal de Vereadores para ouvir a fala da Coordenadora de Igualdade Racial e quilombola do Quilombo Carrapatos da Tabatinga, Graça Epifânio, que ressaltou a necessidade de haver ações coordenadas com o Comitê para trazer às comunidades quilombolas melhorias através de editais e ações públicas. “Nós somos os primeiros detentores da preservação, por isso não podemos ficar esquecidos. A nossa luta passa pelo território e, consequentemente, passa também pelas águas e rios” explicou Graça.

Em seguida, jovens de todas as idades do Quilombo Carrapatos da Tabatinga fizeram uma apresentação cultural. Entoados pelo ritmo do berimbau, a apresentação mostrou a diversidade da região e as raízes africanas no Brasil.

Comitê conversa com usuários do Rio Picão e reforça a necessidade de parceria

Um dos objetivos da Expedição é ouvir e entender as fragilidades dos cursos d’água que fazem parte da bacia hidrográfica do Rio Pará. O Rio Picão, cuja nascente está localizada em Bom Despacho, é um dos afluentes do Rio Pará e, em 2015, sua microbacia foi declarada como área de conflito pelo Instituto Brasileiro de Gestão das Águas (IGAM).

Com essa declaração, novas outorgas de recursos hídricos não podem ser emitidas e aprovadas enquanto a situação estiver resolvida. Em Bom Despacho, a situação não permite que novas propriedades utilizem a água para irrigação de plantações e lavouras.

De acordo com José Hermano Franco, presidente do CBH do Rio Pará, a discussão foi enriquecedora, pois os membros da Expedição ouviram os posicionamentos da CGL e entenderam melhor as demandas que a situação exige. “Com isso, deu para entender as dúvidas que eles possuem em relação à área de conflito do recurso hídrico, inclusive eles não entendem bem dessa forma, e o Comitê tentará resolver isso”, afirmou.

Confira mais fotos da Expedição:

Esgotamento industrial preocupa sanitarista de Bom Despacho

Durante a Roda de Conversa, o esgotamento sanitário por parte das empresas também foi pauta. A engenheira sanitarista, Beliane Xavier, explicou que empresas privadas da região não tratam os efluentes e transferem a responsabilidade do processo para Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) – que, neste caso, não possuem capacidade de processar esgoto industrial. “Essas empresas precisam ter consciência e aderir aos programas, tanto da Copasa quanto das SAAE, porque não adianta reclamar do tratamento se essas empresas estão jogando nos córregos. Os córregos não conseguem fazer a autodepuração”, explicou Beliane.

O presidente do CBH do Rio Pará agradeceu a contribuição e acrescentou que, “o Plano de Educação Ambiental do Comitê prevê ações de conscientização para gestores, consultores e líderes de empresas. Não adianta falar em educação ambiental apenas para as crianças, precisa chegar nesses líderes também. Portanto, tem que colocar isso em prática”, explicou José Hermano.

De acordo com o presidente do CBH do Rio Pará, a segunda parte é a mais difícil, porém a mais eficaz. “Os municípios precisam assumir a responsabilidade pela gestão ambiental deles. A autoridade ambiental local, se quiser melhorar essa situação que é seríssima, tem que começar a fazer este trabalho. Só assim para controlar essa situação”, afirmou.

Assumir a responsabilidade pela gestão ambiental consiste em prever legalmente o comprimento da legislação do município, seja deliberando autorizações, medidas, avisos e multas pelo impacto dessas empresas no meio ambiente.

Expedição Rio Pará 2023 continua

Após uma intensa programação, a Expedição ‘Esse Rio é Meu’ está na segunda semana de atividades. Entre os dias 15 e 19 de maio de 2023, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará percorre os municípios e principais pontos da bacia com o objetivo de conhecer a realidade do território hidrográfico.

A segunda semana da expedição passa por Itaúna e Cláudio, ambos no dia 15 de maio, Pitangui e Conceição do Pará, em programação conjunta no dia 16, Bom Despacho, no dia 17, Martinho Campos, dia 18 de maio, e o encerramento acontece em Pompéu, na foz do Rio Pará, no dia 19.

Em cada parada acontece uma programação específica que possa contribuir e reafirmar o comprometimento com as águas do rio. Apresentações artístico-culturais, solenidades, compromissos com o poder público, plantio de mudas, monitoramento e análise da qualidade da água, visitas técnicas guiadas, passeios de barco e roda de conversa com o povo Kaxixó fazem parte da programação.

Assessoria de Comunicação do CBH do Rio Pará:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: João Alves
*Fotos: João Alves e Leo Boi