Quase metade da população do Brasil continua sem acesso a sistemas de esgotamento sanitário, o que significa que aproximadamente 100 milhões de pessoas, ou 47% dos brasileiros, utilizam medidas alternativas para lidar com os dejetos – seja através de uma fossa, seja jogando o esgoto diretamente em rios. O lançamento de esgoto sem tratamento é apontado pela Agência Nacional de Águas (ANA) como a principal forma de poluição das águas no país. Em Minas Gerais, a Bacia Hidrográfica do Rio Pará apresenta alto índice de municípios sem saneamento básico, principalmente no que diz respeito ao tratamento de esgoto.
De acordo com a Infraestrutura de Dados Espaciais do Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IDE-Sisema), dos 35 municípios da bacia do Rio Pará 71,4% não coletam e tratam seus esgotos, o que representa 25 municípios. Apenas 10 possuem sistema de abastecimento de água e esgoto implementados e 13 têm o sistema de abastecimento de água, mas não coletam seus esgotos.
O presidente do CBH do Rio Pará, José Hermano Oliveira Franco, aponta a falta de saneamento básico como um tema delicado. “A bacia do Rio Pará sofre com a falta de saneamento, o que tem deixado as águas com uma qualidade ruim. Não nos interessa ter um rio morto! Por isso, temos trabalhado na mobilização e conscientização da população e do poder público em busca de melhorias na área de saneamento.”, afirmou.
A coordenadora da Câmara Técnica de Educação, Comunicação e Mobilização (CTECOM) do CBH do Rio Pará e professora da Universidade Federal de São João Del Rey, campus Centro-Oeste (UFSJ), Beatriz Alves Ferreira, destaca que há outras fontes de poluição no Rio Pará. “Atividades industriais e o agronegócio também contribuem para que a qualidade das águas na bacia não esteja adequada para o padrão que almejamos”, disse a professora que atua em pesquisas com ênfase em Química Ambiental e Saúde Ambiental.
Saneamento rural
Professora da UFSJ, Beatriz Ferreira é coordenadora do CTECOM do
CBH do Rio Pará.
Um dos principais lugares onde há deficiência no saneamento básico são as zonas rurais. Garantir o direito ao saneamento para toda a população da bacia exige inovação e soluções adaptadas ao território. Pensando em melhoras no saneamento básico na bacia, o CBH do Rio Pará avalia a possibilidade de investir recursos da cobrança pelo uso da água na promoção de melhorias no saneamento rural.
“Enxergamos que o CBH do Rio Pará não tem recurso para realizar algo de impacto relacionado ao saneamento urbano. No entanto, podemos atuar de forma mais efetiva no saneamento rural, com um trabalho prático que visa disseminar informação e exemplos a serem seguidos na bacia”, afirmou o presidente do Comitê.
A professora Beatriz Alves esclarece que existem alternativas sustentáveis para o tratamento domiciliar de águas negras no meio rural, como por exemplo as Fossas Sépticas Biodigestoras e os Tanques de Evapotranspiração (TEVAP). “Além da educação e mobilização, buscamos formas de implementar pilotos dessas alternativas sustentáveis em regiões rurais da bacia do Pará que servirão de modelo para as pessoas que vivem no campo. São soluções simples, eficientes e facilmente replicáveis”, declarou.
O TEvap, mais conhecido como Fossa de Bananeiras, consiste basicamente em um tanque impermeabilizado, preenchido com diferentes camadas de substrato e plantado com espécies vegetais de crescimento rápido e alta demanda por água. O sistema recebe o efluente dos vasos sanitários, que passa por processos naturais de degradação microbiana da matéria orgânica, mineralização de nutrientes, e a consequente absorção e evapotranspiração da água pelas plantas.
Já a Fossa Séptica Biodigestora substitui as chamadas “fossas negras”. De fácil instalação e baixo custo, ela trata o esgoto do vaso sanitário de forma eficiente, além de produzir um efluente líquido tratado que pode ser utilizado diretamente no solo como fertilizante.