
Museu Sagarana: conheça a cidade da bacia do Rio Pará que inspirou Guimarães Rosa a escrever um dos livros mais famosos do país
Um olhar poético sobre o interior de Minas Gerais, mostrando situações cotidianas contadas de um jeito único, misturando a linguagem popular com a erudita. Um universo repleto de lendas, mitos e personagens marcantes. Características do livro “Sagarana”, uma das maiores obras do escritor mineiro João Guimarães Rosa. E o que muita gente talvez não saiba é que paisagens e histórias ocorridas na bacia do Rio Pará inspiraram o autor a escrever o livro.
Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo, na região Central de Minas Gerais, em 1908. Na juventude, mais precisamente entre os anos de 1931 e 1933, o escritor viveu em Itaguara, na região do Alto Pará. Pesquisadores afirmam que apesar de breve, o período em que viveu na cidade rendeu boas histórias ao escritor. Lá ele conheceu pessoas e fez amigos, que o inspiraram a criar os personagens de “Sagarana”.
A passagem de Guimarães Rosa por Itaguara é motivo de orgulho para a cidade, principalmente por ter sido uma das inspirações para o livro. O escritor se tornou uma figura tão importante para o município que um museu foi criado para homenageá-lo. “O Museu Sagarana é um museu público municipal que tem o objetivo de valorizar a relevância histórica de Guimarães Rosa ter vivido aqui em Itaguara, mesmo que por apenas dois anos e alguns meses”, explica Maria Rita de Oliveira, coordenadora do espaço.
O museu foi inaugurado em 2013 e é vinculado à Secretaria Municipal de Cultura de Itaguara. Milhares de visitantes já estiveram no local e tiveram a oportunidade de conhecer um pouco sobre a história da cidade e sobre a relação do município com Guimarães Rosa e com o livro. Ao todo são 751 peças já inventariadas e outras ainda em processo de catalogação.
Guardião da cultura e da história
O Museu Sagarana convida os visitantes para uma viagem no tempo. O acervo está dividido em quatro galerias, pensadas para proporcionar ao turista uma experiência imersiva. Em cada espaço, objetos, documentos e fotografias que oferecem um olhar único sobre a cultura e a história de Itaguara, além da relação da cidade com Guimarães Rosa.
O passeio começa pela galeria “Conquista”, que reúne documentos e itens que remetem ao passado, da época do surgimento da cidade, com o distrito de Nossa Senhora das Dores de Conquista. “São objetos que contam um pouco da nossa memória. Destacamos a história dos nossos sapateiros, um dos ofícios mais importantes da nossa cidade. Daqui, saíam sapatos para Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Inclusive, Tancredo Neves calçava botinas fabricadas aqui”, conta com entusiasmo a coordenadora do museu.
Nesta primeira galeria também estão expostos itens da centenária Banda de Música Nossa Senhora das Dores, eternizada por outro escritor nacionalmente famoso, Manuel Bandeira, que escreveu uma crônica sobre o grupo. Também são lembrados os homens de Itaguara que estiveram na Segunda Guerra Mundial, além de um espaço dedicado ao rico artesanato do município, que ainda hoje é fonte de renda para alguns moradores.
Já a galeria Relembramentos está diretamente ligada à passagem de Guimarães Rosa por Itaguara, e é um dos espaços mais especiais do museu. “Sabemos que fatos ocorridos aqui em Itaguara inspiraram o grande escritor em Sagarana. No acervo, temos fotos de amigos, de personagens, livros, documentos e outros objetos. Além de itens pessoais de Guimarães Rosa, como a casaca, os óculos e a gravata borboleta que ele costumava usar”, complementa Maria Rita. Nesta parte do museu também há uma homenagem a Vilma Guimarães Rosa, filha de João, e também escritora, que ao escrever a biografia do pai dedicou um capítulo especial ao Museu Sagarana.
Ainda na galeria Relembramentos, temos o cantinho do Compadre Meu Quelemém, personagem de “Grande Sertão: Veredas”, uma das maiores obras de Guimarães Rosa. O personagem foi inspirado em Manoel Carvalho, amigo do escritor, morador da zona rural de Itaguara. Cartas trocadas entre eles estão expostas no acervo.
O visitante continua a viagem no tempo na galeria Emancipação, que narra a história da emancipação política do município em 1943. O acervo é composto por documentos do movimento da emancipação do município, que à época pertencia à Itaúna. Além disso é destaque a galeria dos prefeitos com fotos de todos administradores. A outra sala é chamada de Caixa de Botica, onde são homenageados profissionais de saúde do passado, como farmacêuticos, médicos e parteiras que atuaram em Itaguara. O público pode ver de perto medicamentos, produtos e instrumentais que eram usados na época em que a cidade surgiu. “Através destas galerias, um pouco do nosso passado está eternizado. Servimos deste equipamento público para reverenciar nossos ancestrais por nos ter legado a pertença que somos hoje”, enfatiza a coordenadora do espaço.
O Museu Sagarana está funcionando temporariamente na rua D. Dinha, 75, no centro da cidade, enquanto o prédio original do museu passa por reformas. A entrada é gratuita, de segunda a sexta-feira, de 7h às 13h, e não é preciso fazer agendamento.
Museu Sagarana busca valorizar a relevância histórica de Guimarães Rosa ter vivido em Itaguara.
Assessoria de Comunicação do CBH do Rio Pará:
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