“O sentimento de pertencimento está vivo!”, membros do CBH do Rio Pará avaliam a Expedição ‘Esse Rio é Meu’

26/05/2023 - 15:05

O Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Pará deu um passo importante para o fortalecimento do engajamento, mobilização da sociedade e conservação do território onde atua. Durante 12 dias, entre 08 e 19 de maio, foi realizada a Expedição ‘Esse Rio é Meu’. A caravana que mobilizou centenas de pessoas antes, durante e depois da sua execução, conheceu as complexidades da bacia e as comunidades que nela vivem, escutou histórias, conversou com lideranças e estreitou laços. A Expedição, contudo, também observou que situações difíceis que o rio vivencia, em meio a tantos casos e descasos por parte da sociedade.


Após 12 cidades, 2 mil km rodados entre idas e vindas, alegrias, solenidades, experiências e cobranças, membros e atores que estiveram por trás do planejamento, produção e execução da Expedição ‘Esse Rio é Meu’ avaliaram e discutiram aprendizados adquiridos ao longo da viagem.

Duas estruturas, uma Expedição

Parado às margens do encontro do Rio Pará com o Rio São Francisco, local do último compromisso da Expedição, o presidente do CBH do Rio Pará, José Hermano Franco, comentou as camadas que uma Expedição como essa teve. De um lado a estrutura física, na qual os membros puderam observar e avaliar as condições naturais do rio e a do homem também.

Ele entende que, a partir do trabalho de reconhecimento físico feito pela caravana ao longo do território, agora é possível afirmar que o Rio Pará é navegável em grande parte, pelo menos por caiaque, e que a bacia, como um todo, possui belezas que podem ser trabalhadas como roteiros turísticos e de aventuras. Outros aspectos que chamaram a atenção foram as diferenças culturais e de produção entre cada cidade e comunidade, já que os sistemas produtivos de cada uma são diferentes, mas que acabam impactando o rio de alguma forma. O presidente ressalta: “Para quem não tinha nada, a gente sai dessa Expedição com uma visão sensacional do Rio Pará, pelo viés físico mesmo”.

A outra estrutura posta é a social, principalmente se olhar pela área do engajamento. De acordo com o presidente, a forma como as cidades e as comunidades se organizaram para recebê-los surpreendeu a todos do Comitê. “Essa é a parte que saio mais feliz ainda, porque sinceramente eu não esperava que as pessoas abraçassem dessa forma a gente. Os ribeirinhos, moradores das cidades da bacia, políticos, lideranças, ambientalistas, polícia, todo mundo veio contar algo sobre o rio e a sua convivência com ele. Então, eu não imaginava essa recepção toda”, contou José Hermano.

Um dos objetivos principais da Expedição era proporcionar e fixar o sentimento de pertencimento pelo rio nas pessoas em volta, e em uma avaliação mais ampla, o objetivo foi alcançado. O presidente avalia que, “do ponto de vista deste engajamento, desse pertencimento, acho que o Comitê adquiriu uma grande responsabilidade. Todo mundo ouviu e contribuiu. O sentimento de pertencimento está vivo”.

Ainda de acordo com o presidente, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará precisa continuar este trabalho para que consiga dar respostas para as pessoas. “É unir todo mundo envolta do rio, para começar a resolver os problemas. (…) Não somos nós que vamos resolver, mas com todo mundo junto e olhando para ele, a gente vai conseguir melhorar aos poucos, é assim que é construído a recuperação de um rio.”


José Hermano Franco: “Todo mundo ouviu e contribuiu. O sentimento de pertencimento está vivo”


Rio Pará necessita de atenção

O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará, José Hermano Franco, avalia negativamente a situação do rio. Apesar de a Expedição ter rendido frutos preciosos para o Comitê e as articulações sociais e públicas, a avaliação da situação do rio não é boa. “É ruim! Eu comecei a Expedição com essa impressão, pelo pouco que já tinha ouvido e pelos dados levantados pelo IGAM [Instituto Mineiro de Gestão de Águas], e ela se confirmou. É triste ver como o Rio Pará está negligenciado a tal ponto que parece que é apenas uma calha que passa água, e sabemos que o rio é mais do que isso”, afirma.

A superexploração da água e da pesca predatória, junto a falta de saneamento e tratamento de esgoto são os maiores problemas presentes na bacia. Nesse contexto, os membros do CBH do Rio Pará, entidades, poder público e privado, comunidades e ribeirinhos que acompanharam e participaram da Expedição, entendem que este é o momento para agir. “Ele está precisando de muita ajuda, de olhar com a visão de pertencimento, pois ele está negligenciado”, concluiu o presidente.

“Esse rio é meu, é seu e é nosso!”

Cristiane Freitas, conselheira do CBH do Rio Pará, representante do SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) de Itaguara, ao comentar sobre a Expedição, relembra a espera por atividades que apresentassem o Comitê à sociedade civil, justamente porque as pessoas não sabiam o que era e para que servia. “Eu falava que era membro do Comitê, e todo mundo perguntava ‘O que é isso?’. Então, para a gente é uma gratificação as pessoas entenderem. Desde 2016, pedia para fazer atividades nas comunidades. Então, essa Expedição está sendo maravilhosa, porque o povo está conhecendo o que é o Comitê (…) e a importância dos recursos hídricos, nesse caso, o Rio Pará.” explicou.

Para finalizar, Cristiane avalia o impacto do assunto nas crianças e na motivação pessoal de continuar fomentando um trabalho como esse. “É muito gratificante e hoje eu vejo, isso nos motiva, inclusive a continuar no CBH. Essa ação veio para abrilhantar mesmo o nosso Comitê”.


Cristiane Freitas: “Essa ação veio para abrilhantar mesmo o nosso Comitê”


Jéssica Alana Bolina, superintendente de Meio Ambiente e Fiscalização de Carmo do Cajuru, comentou sobre o processo de estruturação e organização do evento que recebeu e apresentou o município aos expedicionários. “Nós envolvemos as entidades da indústria, aqui representadas como a própria FIEMG [Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais] e a SAAE da cidade, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico [ANA] e empresas grandes da cidade, justamente para dividir a preocupação da conservação e produção do recurso hídrico com eles. É realmente dividir a responsabilidade com todos”. Além de reforçar o compromisso com o recurso, a programação em Carmo do Cajuru foi construída para que a Expedição conhecesse detalhes da cidade, dos trabalhos desenvolvidos e dos desafios enfrentados.

Durante o evento no município, o presidente do CBH do Rio Pará, José Hermano Franco, revelou em primeira mão que Carmo do Cajuru foi contemplado, por meio de edital, com o chamamento para desenvolver ações de saneamento rural. A cidade possui a maior área a ser atendida da região, são quase 300 imóveis rurais a serem contemplados pelas ações de saneamento. A superintendente recebeu a notícia com felicidade e reafirmou o compromisso com meio ambiente. “A gente corre atrás de tudo que pode beneficiar o meio ambiente do município (…), e, com esse edital e essas ações, conseguiremos que grande parte desse esgoto doméstico deixe de ir para o solo e lençóis freáticos, destinando assim ao lugar certo, o tratamento de esgoto da cidade. Estamos muito felizes com a notícia!”, comemorou Jessica.


Jéssica Bolina: “Nós envolvemos as entidades da indústria, aqui representadas como a própria FIEMG e a SAAE da cidade, a ANA e empresas grandes da cidade, justamente para dividir a preocupação da conservação e produção do recurso hídrico com eles”


Marcelo da Fonseca, conselheiro do Comitê, representante do Sindicato dos Produtores Rurais de Cláudio, avalia o processo de fortalecimento e mobilização do Comitê diante da sociedade. “A Expedição foi extremamente fortalecida pela comunicação empregada. Não adianta você desenvolver ações, se você não tem acompanhamento para criar uma motivação maior para que realmente você possa desenvolver uma mobilização em torno dos objetivos do Comitê, que neste caso é exatamente restabelecer o Rio Pará. (…).”, pontuou o conselheiro.

Marcelo compreende que a comunicação assertiva contribuiu para que os municípios entendessem e assumissem o papel de responsabilidade com o rio e ressaltou a importância da existência de ações como a Expedição. “É de fundamental importância que os municípios e as comunidades compreendam o papel do CBH do Rio Pará. Todas as ações que ele vem desenvolvendo são extremamente planejadas. Cada cidadão que representa uma instituição, seja do Estado, do município ou da sociedade, tem voz e tem voto para definir os rumos dos nossos rios. (…) É de fundamental importância que a Expedição aconteça para que possamos avaliar o que podemos facilitar e viabilizar diante das realidades vistas”.


Marcelo da Fonseca: ““É de fundamental importância que os municípios e as comunidades compreendam o papel do CBH do Rio Pará”


Varlei Marra, secretário-adjunto do CBH do Rio Pará, relembra a primeira tentativa de efetivar a Expedição e comenta a alegria de finalmente ver ela em ação. “Em julho do ano passado, infelizmente a Expedição não pôde sair por conta do período eleitoral, contudo, ver ela se concretizando é de uma imensa alegria”.

Varlei ainda comenta sobre o momento da chegada da Expedição a sua cidade, Itaúna. “Foi muito oportuno, porque podemos cobrar do poder público a construção e finalização da Estação de Tratamento de Esgoto [ETE] da cidade, que está desde 2007 nessa situação. Portanto, Itaúna possui o sistema de coleta de esgoto, porém não há tratamento. Então, 100% do esgoto é descartado no Rio São João, que é um dos principais afluentes do Rio Pará”, explicou. De acordo com os representantes da ETE de Itaúna, a estação será inaugurada em até 4 meses, em meados de setembro.


Varlei Marra: “Ver a Expedição se concretizando é de uma imensa alegria”


André Rufino, membro do CBH do Rio Pará e gerente da Agência Reguladora dos Serviços Públicos de Abastecimento de Água Potável e Esgotamento Sanitário do Município de Pará de Minas, acompanhou toda a Expedição e foi um grande agente de mobilização. Em diversos momentos, André relembrou a emoção de encontrar a nascente do Rio Pará na cidade de Resende Costa. “Nós estamos conhecendo a bacia do Rio Pará, tanto que estivemos na nascente do rio. Essa água com certeza procurou atender as mais de 900 mil pessoas de toda a bacia do rio, e isso gera uma emoção, de saber que essa água vai servir a tantos e vai contribuir com tantos”.

Além disso, André entende que a Expedição serviu para discutir exemplos e maneiras para recuperar o rio. “Estamos conhecendo as cidades e pessoas que vivem às margens do rio, então estamos discutindo os prós e contras, aquilo que nós podemos colaborar para melhorar e o que estamos levando de exemplo” concluiu.


André Rufino: “Essa água com certeza procurou atender as mais de 900 mil pessoas de toda a bacia do rio, e isso gera uma emoção”


Da nascente à foz, o encontro emocionado de dois filhos do rio

No primeiro dia de Expedição, em Resende Costa, os expedicionários puderam finalmente conhecer a nascente do Rio Pará. Para chegar até ela, áreas de plantio e mata fechada tiveram que ser desbravadas. Problema nenhum para os aventureiros do Comitê, principalmente para dois personagens importantes presentes: Zé Dirino e Antônio Jackson.

José Dirino Arruda, de Martinho Campos, é um dos membros mais antigos do CBH do Rio Pará. Já o nosso segundo personagem, Antônio Jackson, é membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) e, direto de Alagoas, veio a Minas prestigiar a iniciativa. Em uma fila indiana entre os presentes na nascente, a experiência e os cabelos brancos de ambos se destacavam em meio a vegetação verde.

Ao encontrar a nascente, fonte de toda a vida, os dois personagens, Zé Dirino e Antônio Jackson se emocionaram. José Dirino, que é da foz do Rio Pará, que está a mais de 350 km de distância da nascente, quis beber da água. “Isso prova que não medimos esforços para estar participando deste Comitê. Desde sua criação, eu trabalho voluntariamente com persistência e com o sonho de um dia conhecer a nascente desse rio. E hoje consegui esse grande feito. Me sinto realizado”.

Antônio Jackson pediu licença e se ajoelhou. “Chegou na nascente tem que se ajoelhar, é assim que se homenageia”. Emocionado, explicou aos presentes a origem do nome do rio. “O seu nome em tupi-guarani Pará significa Rio mar, então é aqui que começa a vida de 900 mil pessoas dessa bacia. É aqui que começa a vida de um rio que é um dos maiores afluentes do São Francisco. Então, eu tenho certeza de que desse cantinho aqui, nem que seja uma gotinha d’água, chegará ao Oceano Atlântico, fazendo jus ao nome dele”.

Para a Expedição, este momento foi um marco. Para esses dois personagens especialmente, um encontro entre pai e filhos.


José Dirino e Antônio Jackson são grandes entusiastas da Expedição


2ª edição já em gestação

Com o sucesso da primeira Expedição, o presidente do CBH do Rio Pará, José Hermano Franco, já começou a estreitar laços entre entidades, lideranças e Comitê para viabilizar uma segunda edição. “Primeiro, agora que sabemos que é possível percorrer pelo rio, navegaremos em tudo que for possível, justamente para levantarmos mais detalhes. Mas este é só um dos objetivos, pois, para além, temos os editais de saneamento rural que continuarão, e os programas de educação ambiental para municípios da bacia. Essa educação é parte do trabalho a ser construído”.

José Hermano ainda pretende levar ao Comitê projetos que possam ajudar a monitorar a vazão do Rio Pará e seus afluentes. “Eu já fiz essa discussão no Comitê algumas vezes e acho que agora é a hora de pautar novamente. É necessário ter dados concretos, criar uma base concreta para o gerenciamento de recursos hídricos. É aplicar metodologias”.


Confira um resumo, com mais fotos da Expedição Rio Pará 2023: ‘Esse Rio é Meu’:


Entenda a Expedição ‘Esse Rio é Meu’

Durante os dias 08 e 19 de maio de 2023, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará, junto a autoridades, lideranças e mobilizadores, promoveu a Expedição ‘Esse Rio é Meu’, a primeira nas águas deste importante afluente do Velho Chico. Com o objetivo de conhecer a realidade do território hidrográfico, a caravana percorreu diversos municípios e pontos importantes do rio, a fim de mobilizar a sociedade e propor ações de revitalização.

A primeira semana da Expedição, de 08 a 12 de maio, visitou os municípios de Resende Costa (nascente), Itaguara, Pará de Minas, Carmo do Cajuru e Divinópolis. Na segunda semana, de 15 a 19 de maio, percorreu Itaúna, Cláudio, Pitangui, Conceição do Pará, Bom Despacho, Martinho Campos e Pompéu (foz).

Em cada parada houve programações específicas que contribuíram e reafirmaram o comprometimento da sociedade com as águas do Rio Pará. Apresentações artístico-culturais, solenidades, compromissos com o poder público, plantio de mudas, monitoramento e análise da qualidade da água, visitas técnicas guiadas, passeios de barco e roda de conversa fizeram parte da programação.


Assessoria de Comunicação do CBH do Rio Pará:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: João Alves
*Fotos: João Alves e Leo Boi

Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará

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