Município de Itaguara traz religiosidade e cultura em sua história, além da tradicional hospitalidade, característica do povo mineiro
Localizada há quase 100km da capital mineira, a pequena Itaguara, no Alto Rio Pará, encanta pela beleza e cordialidade de seu povo. Desenhada por morros e pequenas serras, o município é cortado pelo Ribeirão Conquista e pelo Rio São João, além do Rio Pará, que traça a fronteira com Carmópolis de Minas e Cláudio. Circular pela cidade é respirar o ar puro do interior de Minas Gerais e apreciar os casarões antigos que enchem os olhos. As pracinhas bem cuidadas espalhadas pela cidade são convidativas para um bom papo, além da leitura atenta pelas obras de João Guimarães Rosa, que por lá viveu e registrou o município no conto “Sarapalha”, do livro “Sagarana”.
Em 1675, Lourenço Castanho Taques chegou à região central do estado, onde viviam os índios Cataguases, os quais dominou e dizimou, dando o nome ao distrito de Conquista. Em 1901, foi anexado ao município de Itaúna. Já em 1943, Conquista elevou-se a município com a denominação Itaguara, palavra de origem tupi-guarani que significa “pedra do lobo”. Hoje, abriga cerca de 13 mil habitantes que vivem pelas ruas calmas de uma cidade privilegiada por suas belezas naturais.
Para quem visita Itaguara, a passagem pelas belas cachoeiras e o museu dedicado a Guimarães Rosa são pontos que não podem faltar no roteiro. A cachoeira da Pataca, por exemplo, com seus quase 3 metros de queda d’água, está localizada há apenas 4km do centro da cidade. O acesso é fácil, feito por uma trilha. O local impressiona pelas águas limpas e pela natureza preservada ao seu redor.
Cachoeira Eldorado, em Itaguara.
Há pouco mais de 1km de lá está situada a Cachoeira Eldorado, local com um grau maior de dificuldade de acesso, mas de beleza impecável.
Tombado como Patrimônio Histórico e Cultural do município, o Engenho Velho está localizado em uma propriedade particular. Suas ruínas proporcionam a apresentação exuberante da vegetação e a rústica paisagem. Há 8km do centro, o local traz construções feitas em pedra, inclusive a do moinho construído por escravos. Para quem deseja passar o dia por ali, o local possui área de camping e restaurante. É o lugar para repousar e apreciar a culinária mineira com um cenário único.
Construído na metade do século XX, o pontilhão situado no distrito de Pará dos Vilelas guarda história e traz lembranças. Feito com linhas simples e de pequena largura, a pequena ponte foi construída em concreto armado, possuindo vigas curvas engatadas através de vigas retas, que criam a amarração sustentadas por pilares vinculados na curvatura e no imenso pilar de sustentação.
A fé e religiosidade também marcam o Pará dos Vilela. O local conta com uma construção histórica: a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, erguida em pedra no ano de 1746.
O distrito, localizado próximo à cidade de Cláudio, e á 22km da área central de Itaguara, foi o primeiro povoado do município e traz as primeiras memórias do escritor João Guimarães Rosa, jovem médico recém-chegado à cidade que se chocou com um surto de malária na região, que deixou muita dor e sofrimento aos moradores do distrito. Fato que, no futuro, impulsionou o então escritor a retratar Itaguara no conto “Sarapalha”, da obra “Sagarana”, (1946). Na cidade, um museu guarda sua história e a conecta com a do município, local pouco habitado por ele, mas que deixou grandes lembranças.
A cidade também aprendeu a amar e respeitar seus recursos hídricos. Cortada pelo Ribeirão Conquista, curso d`água com 27km de extensão, que passa pelo centro da cidade e inspira a todos a viver com qualidade de vida e respeito ao meio ambiente.
“O Ribeirão Conquista e suas referências de lugar, como a própria cachoeira da Pataca, e outras, poderiam potencializar rotas turísticas e de preservação ambiental, configurando uma alternativa para o desenvolvimento econômico, cultural e social de Itaguara”, destaca a geógrafa, mestre em Patrimônio Cultural, Paisagens e Cidadania, Marina Vilaça.
ESTUDO
Marina é autora de um estudo sobre o Ribeirão Conquista. Natural de Itaguara, ela percebeu através de seus vínculos afetivos com a cidade a possibilidade de contribuir com conhecimento acadêmico, analisando aspectos ambientais e de unidade de planejamento e gestão de território. “Essa escolha foi pautada, principalmente, pela identificação das características relevantes desse curso d’água, que é afluente da margem direita do Rio Pará, e tem sua bacia totalmente inserida nos limites administrativos do município de Itaguara, onde intercepta a área rural e urbana ao longo dos seus 27km de extensão”, explica Marina.
A pesquisa contou com levantamentos secundários para análise ambiental, com foco nos aspectos físicos e socioambientais da Bacia Hidrográfica do Ribeirão Conquista, apoiados pelo uso de um Sistema de Informações Geográficas (SIG) para análise espacial dos dados. Marina reforça que informações disponibilizadas pelo CBH do Rio Pará também contribuíram para o estudo.
O trabalho evidencia como as bacias hidrográficas se consolidam como compartimentos geográficos coerentes para planejamento integrado do uso e da ocupação dos espaços rurais e urbanos, na busca pelo desenvolvimento sustentável.
Natural de Itaguara, geógrafa Marina Vilaça desenvolveu estudo sobre o Ribeirão Conquista.
Marina acredita que a ocupação humana e os diversos tipos de usos do solo na bacia do Ribeirão Conquista, nos perímetros urbano e rural, provocaram a supressão da mata ciliar e mudança das características ambientais da região, o que regularmente têm impactado a própria população nos períodos de chuva, com ocorrências de inundações na sede urbana e perdas de infraestruturas e benfeitorias.
“Esse é apenas um dos exemplos de como a preservação e cuidado com o recurso hídrico têm importância direta na vida da população. Outros aspectos, como indicadores de qualidade da água e limitação de expansão das atividades produtivas, podem ser gerenciados a partir de uma unidade de planejamento”, ressalta.
Marina explica que, a partir desse entendimento de gestão territorial, a Bacia Hidrográfica do Ribeirão Conquista poderia contar com a participação da população em projetos de educação ambiental, formação de agentes comunitários para vigilância dos aspectos ambientais do curso d’água, maior proximidade e parcerias com o CBH do Rio Pará, atuação da administração municipal na mediação de conflitos sobre usos da água, dentre outros.
ÁGUA COM QUALIDADE EM CASA E NO RIO
Cristiane Freitas é representante do SAAE de Itaguara no CBH do Rio Pará.
Representado pela conselheira Cristiane Maria das Dores Freitas, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Itaguara se faz presente no CBH do Rio Pará e, na cidade, é responsável por levar água de qualidade para todas as famílias. “Nosso objetivo é entregar água de qualidade em todas as propriedades. É com muita responsabilidade e carinho que fazemos a coleta dos recursos hídricos, além do cuidado para que esse bem não venha a faltar”, ressalta.
Em relação ao saneamento no município, Cristiane conta, que a autarquia é responsável, além da captação e distribuição de água tratada para a população, pela estação de colega de esgoto, onde é feita a coleta e o transporte até a unidade para fazer o tratamento. Também administram uma unidade de transbordo de resíduos sólidos. “A coleta doméstica é feita de porta em porta e os resíduos são encaminhados para o aterro sanitário Macaúba, em Sabará, também gerenciado pelo SAAE”, explica.
Cristiane conta que diversos projetos são realizados para preservar os recursos hídricos locais. Dentre eles, o projeto “Água Fonte de Vida”, iniciativa em parceria com a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente, que distribui material para propriedades onde estão localizadas as nascentes.
A conselheira conta que a educação ambiental está presente na cidade através de atividades com as escolas, em que os estudantes são convidados para um tour ao redor do rio, onde aprendem sobre a importância das águas, como acontece a captação e a chegada da água com qualidade em todas as casas.
Para Cristiane, o maior vilão na cidade são os resíduos ainda depositados ao longo dos rios. Em sua maioria, sacos plásticos e tecidos circulam pelas águas e podem entupir a rede de drenagem, esgoto e, no período de chuvas, até causar inundações. “Essa responsabilidade de descarte é muito grande e as pessoas não têm noção da responsabilidade que cada um tem. Por isso a importância da conscientização e de não jogar nenhum tipo de resíduo nas águas”, enfatiza.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CONSCIENTIZAÇÃO
Comprometida com a sustentabilidade e a preservação ambiental, a prefeitura de Itaguara também é responsável por diversas ações no município. De acordo com o Secretário Municipal de Infraestrutura, Limpeza Urbana, Agropecuária e Meio Ambiente, Luan Brenner Gonçalves de Morais, o objetivo é preservar os recursos naturais e conscientizar a população.
Segundo ele, através do projeto ‘Água fonte de vida’ é possível preservar as nascentes com a colaboração dos moradores que vivem ao seu redor. Além da doação de materiais, um estudo é feito no local para preservação do curso d’água. “São entregues estacas, arames e mudas. A ideia é fazer a recomposição do terreno no entorno das nascentes e o cercamento delas”, explica.
Pontos de coleta de óleo de cozinha para destinação correta, implantação de lixeiras ecológicas em pontos turísticos da cidade e atividades de educação ambiental fazem parte de ações contínuas idealizadas pelo município. “Temos colhido frutos positivos do nosso trabalho. A educação ambiental é um ponto que tem colaborado para formar cidadãos mais conscientes e comprometidos com a causa ambiental”, finaliza o secretário Luan Brenner.
Assessoria de Comunicação CBH Rio Pará:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Gabriel Rodrigues