O alerta sobre possível contaminação da água por agrotóxicos em cidades de Minas Gerais é visto com cautela por conselheiros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará. Após a divulgação dos dados, apontando a presença das substâncias químicas em amostras coletadas em 13 cidades do estado, a situação gerou preocupação em diversos setores devido ao risco à saúde humana, mas especialistas alertam para a necessidade de analisar melhor os números.
As informações foram divulgadas no fim do mês passado pela ONG Repórter Brasil, que afirmou ter realizado um cruzamento dos dados publicados pelo Ministério da Saúde no Sisagua, Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano. De acordo com a análise, em pelo menos 28 cidades do país os testes detectaram a presença de agrotóxicos na rede de abastecimento de água, em níveis acima do limite considerado aceitável – o que, segundo especialistas, pode representar perigo à saúde da população que consome água desses locais.
Das cidades analisadas em Minas Gerais e que tiveram detecção de agrotóxico acima do tolerável, apenas uma fica na Bacia Hidrográfica do Rio Pará. Em Divinópolis, no médio Pará, a ONG afirma que uma amostra coletada apresentou contaminação pelos produtos químicos.
No município, a coleta, tratamento e fornecimento de água para os cerca de 250 mil habitantes são de responsabilidade da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais). Em relação aos dados publicados, a empresa afirma que “a reportagem da ONG Repórter Brasil cita a detecção de agrotóxicos, porém não é mencionado se os padrões de potabilidade não foram atendidos. Diante disso, a Copasa esclarece que a legislação apresenta limites estabelecidos como seguros para a presença de todas as substâncias que são investigadas e, somente valores acima dos Valores Máximos Permitidos (VMP’s), indicam potencial risco à saúde da população”, afirma a empresa em nota, garantindo que a água fornecida para a população não apresenta “quaisquer riscos à saúde”.
A prefeitura de Divinópolis também garante que não há motivo para alarde. “A Copasa tem que apresentar para gente, a cada seis meses, a análise de concentração de agrotóxicos na água. Se essa análise for acima do permitido, aí ela tem que refazer a análise a cada dois meses. Até então, as análises estavam dentro dos parâmetros, ou seja, não tivemos acesso a nada fora dos parâmetros estabelecidos”, explica Érika Camargos, diretora de vigilância em Saúde da prefeitura de Divinópolis.
Na cidade, que é polo da agricultura familiar na região Centro-Oeste, há muitas plantações de diversas culturas. A Comunicação do CBH do Rio Pará entrou em contato com a Cooprafad, a Cooperativa da Agricultura Familiar de Divinópolis, para saber como o setor analisa as informações divulgadas pela ONG Repórter Brasil, bem como para questionar como é feito o uso de agrotóxicos nas plantações da região, porém não teve retorno.
A Secretaria de Estado de Saúde afirma que as análises para detecção de contaminação da água por agrotóxicos são feitas, de forma amostral, pelo laboratório da Fundação Ezequiel Dias, em Belo Horizonte, mas não comentou os números divulgados pela ONG sobre a situação em Minas Gerais. A nota enviada pela secretaria diz que o monitoramento sobre a qualidade da água “possibilita auxiliar os gestores públicos quanto ao gerenciamento de riscos à saúde que possam estar associados à qualidade da água destinada ao consumo humano”.
Situação precisa ser vista com cautela, afirma CBH
A presença de agrotóxicos na água preocupa a população das cidades onde os testes apontam a contaminação das amostras, já que esse tipo de substância química pode trazer inúmeros riscos à saúde. Para Beatriz Alves Ferreira, professora do campus da UFSJ em Divinópolis e vice-presidente do CBH do Rio Pará, a situação exige um aprofundamento maior na interpretação dos dados. “Do ponto de vista “técnico-científico”, vejo com certa reserva o conteúdo veiculado. Já foram realizadas algumas correções na matéria e o enquadramento na legislação depende da finalidade da avaliação da água, devido a seus múltiplos usos. Concordo que traz à tona um problema recorrente sobre a utilização indiscriminada de agrotóxicos/defensivos agrícolas, o que merece atenção. Mas ao mesmo tempo é necessário um estudo mais criterioso e acesso a dados complementares”, destaca Beatriz.
A divulgação e análise dos dados sobre a qualidade da água em Minas Gerais são acompanhadas de perto pelo CBH do Rio Pará. “Essa preocupação não é de agora. Porém, nós não tivemos acesso ao laudo, a quais inseticidas foram testados, etc. É claro que isso é um alerta importante, porque no nosso entorno, em Divinópolis, temos muita agricultura familiar que utiliza essa água para abastecimento próprio. E, às vezes, mesmo o tratamento da Copasa não consegue remover esses poluentes” avalia o químico Rafael Chagas, professor da UFSJ em Divinópolis e conselheiro suplente do Comitê.
Ele destaca algumas das iniciativas desenvolvidas no território que buscam entender melhor a situação da qualidade da água local. “Na UFSJ temos feito vários estudos, desde análises sobre efeitos desses pesticidas com os peixes, e também avaliando possibilidades de melhorar o tratamento, principalmente em comunidades rurais, buscando métodos alternativos, mais baratos, que consigam remover esses pesticidas. Já pedimos acesso ao estudo na íntegra, para saber quais tipos de poluentes, e quais concentrações, para avaliarmos bem isso”, finaliza o pesquisador.
Assessoria de Comunicação do CBH do Rio Pará:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Ricardo Miranda
*Fotos: Leo Boi; João Alves