Em penúltimo dia, Indígenas Kaxixós e moradores de Martinho Campos recebem a Expedição ‘Esse Rio é Meu’

19/05/2023 - 9:31

O nono dia da Expedição ‘Esse Rio é Meu’ começou com uma recepção calorosa por parte dos moradores e autoridades públicas em Martinho Campos. Após um farto e tradicional café da manhã com discursos dos presentes, os laços entre a sociedade civil, poder público e o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará foram estreitados. À tarde, a Expedição chegou às terras indígenas do povo Kaxixó e, com um mergulho na cultura e costumes, os expedicionários puderam conhecer a importância desse povo para o Rio Pará.


A Venda Bem do Devico, conhecida também como Casarão Amarelo, foi o local escolhido para receber a expedição ‘Esse Rio é Meu’ para um café da manhã. O espaço é utilizado como loja para que artesãos da cidade possam expor seus trabalhos e vendê-los. No intuito de mostrar a força de trabalho da cidade e a sua cultura, o prefeito de Martinho Campos, Wilson Diretor, deu as boas-vindas ao CBH. “Quero saudar o presidente do Comitê do Rio Pará, José Hermano Franco, que chega com essa iniciativa em nossa cidade”.

À noite, uma série de atividades culturais ocorreram na Praça da Matriz. Com muita animação, a festa contou com apresentações da Banda Lira Santa Cecília, do ‘Poetas das Águas’, da Orquestra Abadiense de Viola Caipira, do grupo de capoeira ‘Afrominas’ e do ‘Talentos da Terra’. Além disso, a Feira de Arte, Cultura e Gastronomia ofereceu delícias da região.

Povo Kaxixó e Rio Pará: uma relação que nem os maiores desafios abala

Após o momento inicial, a Expedição percorreu outros 29 km, entre estrada de asfalto e terra, para chegar à Reserva Indígena Kaxixó. No local, a caravana foi recebida pela professora Liderjane Gomes da Mata, a Jane Kaxixó, que nos contou um pouco sobre o seu povo, seus costumes, rituais e manifestações culturais. “O povo Kaxixó está há mais de 1500 anos aqui, entre o Rio Paraopeba e o Rio Pará. Nós sempre vivemos às margens do rio”, contou. Jane revelou também que o rio fez a história do seu povo mudar. “Antigamente, no início, os povos indígenas eram nômades, mas naquela época o meu povo gostou dessas terras e parou aqui, às margens do Rio Pará. Foi aqui que eles escolheram viver”.

Contudo, com o avanço da história moderna, o seu povo foi perdendo espaço para fazendeiros e proprietários de grandes terras, que desmatavam as matas em volta para plantio e criação de gado. O Rio Pará, chamado de Mãe por eles, foi quem os salvou. “A relação dos Kaxixó com o Rio Pará é de mãe e filho. Quando os fazendeiros no entorno tomaram as nossas terras e o Cerrado de nossos antepassados, foi ele [o rio] que nos deu alimento e que nos manteve firmes”, explica Jane Kaxixó.

Mas, mesmo com o passar dos anos, a história ainda se repete, pois a pesca predatória no Rio Pará faz com que a comunidade tenha dificuldade em achar e pescar peixes. “Hoje nós estamos tendo dificuldade até para ter peixe, porque além de não encontrar, os pescadores da região não deixam que a gente passe e pegue alimento. Eles falam que atrapalha a pescaria deles”.

A indígena e professora Jane vê a chegada do Comitê e da Expedição com entusiasmo, já que a aproximação irá propor parcerias para manter o rio saudável. “Nos últimos anos, a avaliação que o meu povo faz é que o Rio Pará está pedindo cada vez mais socorro. Ele está realmente agonizando. Se a gente não parar e não fazer algo por ele agora, os nossos filhos, e filhos dos meus filhos, não terão um rio para cuidar. Mas a chegada do Comitê é uma grande expectativa, porque só vai somar com o rio. Temos buscado parcerias para mantê-lo saudável e tenho certeza de que só vai melhorar para a gente”.


Confira mais fotos do dia em Martinho Campos:


Presidente do Comitê reitera compromisso de preservação do Rio Pará com o povo Kaxixó

A exposição do povo Kaxixó sobre as mazelas que ocorrem no rio e em seu povo impactou os membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará. O presidente, José Hermano Franco, disse estar triste com os relatos e refletiu sobre a necessidade de mudança. “A gente pode ver e ouvir um pouco sobre a cultura desse povo fantástico que está aqui nas margens do rio há pelo menos 1500 anos, muito antes de nós todos, porém, pudemos descobrir não só as coisas boas, como também descobrimos problemas ambientais que afligem o rio”. José Hermano Franco enumera que problemas com as lagoas marginais e a pesca predatória matam um rio e consequentemente um povo. “Esses são problemas graves, então a gente percebe que esse povo merece mais do que respeito, merecem os seus direitos, porque, de fato, nós falamos a mesma língua, dá para produzir, dá para preservar, manter o rio vivo, e a gente abraça a causa com tudo”.

O presidente afirmou que o Comitê não é contra a pesca e outras atividades dessa natureza no rio, contudo precisa haver consciência e respeito para que essas águas sejam de todo mundo. “O CBH com certeza irá tratar mais dessas pautas no futuro”.

Expedição Rio Pará 2023 termina nesta sexta-feira em Pompéu

Após uma intensa programação, a Expedição ‘Esse Rio é Meu’ está na sua segunda semana de atividades. Entre os dias 08 e 19 de maio de 2023, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará tem percorrido municípios e principais pontos da bacia com o objetivo de conhecer a realidade do território hidrográfico.

Em cada parada acontece uma programação específica que possa contribuir e reafirmar o comprometimento com as águas do rio. Apresentações artístico-culturais, solenidades, compromissos com o poder público, plantio de mudas, monitoramento e análise da qualidade da água, visitas técnicas guiadas, passeios de barco e rodas de conversa fazem parte da programação.


Assessoria de Comunicação do CBH do Rio Pará:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: João Alves
*Fotos: João Alves; Leo Boi; Rodrigo de Angelis

Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará

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