Pesquisadores analisam peixes da Bacia do Rio Pará para avaliar impactos das mudanças ambientais

23/08/2024 - 14:45

Em Divinópolis, região do Médio Pará, o campus da Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ) abriga um dos mais importantes laboratórios de pesquisa sobre a saúde dos peixes em Minas Gerais. O Laprotec, Laboratório de Processamento de Tecidos, analisa a situação dos animais a partir da histologia, o estudo dos tecidos desses organismos.


O Laprotec foi criado há 14 anos e atualmente é coordenado pelos professores Ralph Gruppi Tomé e Hélio Batista dos Santos. Alunos da instituição, da graduação, mestrado e doutorado, trabalham em diferentes linhas de pesquisa. “O nosso laboratório tem os peixes como modelo de estudo, principalmente do ponto de vida da histologia. E pesquisamos vários pontos, desde a interação deles no ambiente, o comportamento da sociedade ao redor dos cursos d’água, além de realizarmos experimentos laboratoriais avaliando a presença de determinadas substâncias na água e a influência disso nesses organismos. A gente coleta tecidos desses animais, como fígado, baço e as brânquias, para fazer análises microscópicas e monitorar modificações ambientais”, explica o professor Ralph Tomé.

Entre as diferentes linhas de pesquisa que atualmente são feitas no laboratório, duas se destacam. Os estudos avaliam desde a presença de microplásticos no estômago dos peixes do Rio Itapecerica, um dos mais importantes da bacia do Rio Pará, até o impacto do descarte incorreto de fármacos, que contaminam os recursos hídricos e afetam a saúde dos animais. “As pesquisas científicas querem explicar para a população como esse tipo de situação pode prejudicar ou influenciar nosso dia a dia de maneira geral”, explica Jicaury Roberta, doutoranda em biotecnologia e que se mudou para Divinópolis para participar das pesquisas no Laprotec.

O laboratório conta com tecnologias avançadas para possibilitar diferentes experimentos. Em um dos equipamentos os pesquisadores selecionam e cultivam embriões de peixes, para avaliar os estágios de desenvolvimento dos animais, desde a fecundação dos óvulos até a fase adulta. Os peixes da espécie zebrafish são os mais utilizados nos experimentos. O Laprotec conta ainda com um biotério, um espaço com vários aquários onde centenas de peixes são conservados para serem usados nos experimentos.

De acordo com os pesquisadores, os estudos feitos no laboratório indicam que a falta de cuidado com o meio ambiente está provocando graves problemas ambientais na saúde dos peixes que habitam os rios da bacia do Pará. O coordenador do Laprotec compara a situação com a de um paciente que se encontra na UTI. “O caso é grave. É possível recuperar, mas as ações precisam ser direcionadas nesse sentido. Não apenas iniciativas governamentais, mas também envolvendo a sociedade com ações simples, evitando o descarte de lixo, por exemplo, para termos efeitos positivos no futuro”, enfatiza o professor Ralph Tomé.


Veja mais fotos do laboratório:


O descarte de lixo nos rios é um dos maiores desafios a serem enfrentados, afirmam os pesquisadores. Os materiais jogados na água podem ser confundidos pelos peixes, que acabam os ingerindo. Isso tem provocado inúmeros problemas de saúde nos animais e até a mortandade de algumas espécies. “Nós estamos poluindo os rios, porém isso está retornando para a gente. Ainda não se discute muito sobre esse assunto, mas com as pesquisas estamos conseguindo grandes avanços e vamos reverter isso para a sociedade”, comenta Vitor Correa, mestrando em biotecnologia e que participa de uma das pesquisas do laboratório.

Os coordenadores do laboratório destacam a importância das ações desenvolvidas pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará, destacando o Plano de Educação Ambiental (PEA) do território, que prevê várias ações a serem desenvolvidas ao longo dos próximos anos para envolver a comunidade na preservação dos recursos hídricos.

Para os pesquisadores, só com a mudança no comportamento da sociedade, aplicando mudanças urgentes, é que será possível melhorar a qualidade de vida para os organismos que dependem dos rios. “Com o nosso trabalho, esperamos transformar a sociedade. A ideia é levar conhecimento e, com isso, estimular mudanças para melhorar as ações no dia a dia das pessoas. Precisamos alertar sobre a importância da educação ambiental, porque esse é o único caminho”, finaliza o professor Ralph.


Assessoria de Comunicação do CBH do Rio Pará:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Ricardo Miranda
*Fotos: Udner Rios

Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará

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