Sem chuva há cinco meses, cidades da Bacia do Rio Pará sofrem com estiagem prolongada

14/08/2024 - 16:30

Assim como em boa parte do Estado, as cidades ao longo de toda a Bacia Hidrográfica do Rio Pará enfrentam os efeitos de uma estiagem prolongada. Após meses sem chuva, muitos municípios já registram diminuição no volume de córregos e nascentes. Na zona rural, agricultores relatam dificuldade em manter o plantio e já registram prejuízos.


Em Divinópolis, no Médio Pará, maior cidade da bacia hidrográfica, o período de estiagem começou em fevereiro. “Por consequência do baixo índice de chuvas, no período de outubro do ano passado a março deste ano, a zona rural já sofre com a falta de água neste período de estiagem, que deve se estender até outubro”, comenta Amélia Soares Branco, diretora de Agropecuária, Infraestrutura e Inspeção da Prefeitura de Divinópolis.

Na zona rural do município, onde muitas famílias vivem da agricultura, a estiagem prolongada tem acusado prejuízos. Muitas culturas enfrentam problemas nas colheitas. A Diretoria de Agropecuária já identificou redução nos níveis de água dos lençóis freáticos, além da redução do volume dos córregos em várias comunidades, incluindo os povoados de Boa Vista, Córrego do Paiol, Lajes, Cachoeira Ponte de Ferro, Amadeu Lacerda e Tamboril. “Já tivemos que descer algumas bombas nas comunidades rurais para alcançar o nível da água, e ainda complementar o abastecimento com o caminhão-pipa por algum período. O baixo volume de água nos córregos é perceptível”, complementa Amélia.


Divinópolis já utiliza caminhões-pipa no enfrentamento do período de estiagem


A situação é semelhante ao longo de toda a bacia do Rio Pará. Em Pompéu, na região do Baixo, próximo à foz, já são cinco meses sem nenhum volume significativo de chuva. Com a estiagem prolongada, córregos estão secando e nascentes estão com volume de água bastante reduzido. “A agricultura, sobretudo produção de grãos, tem uma grande importância para a economia de Pompéu. E a cidade está sofrendo muito devido a esse grande período de estiagem. A prefeitura está recebendo diariamente pedidos para abastecimento de imóveis com caminhão-pipa, principalmente pequenos produtores da agricultura familiar e assentamentos da reforma agrária. Este é um problema sério e vemos com preocupação a situação atual. Temos relatos de cisternas secando, córregos diminuindo o volume d´água e até secando”, afirma Breno Henrique, diretor de Meio Ambiente da Prefeitura de Pompéu.

Apesar disso, a Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais), responsável pelo abastecimento da maioria das cidades da região, garante que ainda não há racionamento de água. “A Copasa informa que faz a medição do nível dos rios apenas nos pontos onde é feita a captação de água para o atendimento aos municípios da região. A Companhia reforça que nestes pontos os mananciais seguem com os níveis esperados para o período do ano, mesmo com as estiagens. A Copasa informa ainda que tem feito diversos investimentos que visam aumentar o volume de água captada e melhorar o abastecimento das cidades da região para garantir o abastecimento dentro de períodos de escassez”, afirmou a empresa em nota.

Outra cidade que sofre com a estiagem prolongada é Carmo do Cajuru, no Médio Pará. A última chuva significativa na cidade foi registrada em abril. Assim como o relatado em outros locais da bacia, moradores da zona rural de Carmo do Cajuru observaram redução no volume de córregos e nascentes. A prefeitura acompanha o cenário para oferecer suporte aos produtores rurais, bastante afetados pela situação.

Em Carmo do Cajuru o abastecimento é feito pelo SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto). Fábio Rabelo de Melo, diretor geral da autarquia, explica que toda captação para o abastecimento da cidade é feita no Rio Pará. “Apesar da falta de chuva e da diminuição no volume dos córregos, nosso abastecimento não foi afetado. A captação é feita no trecho do rio que fica abaixo da Usina da Cemig [Companhia Energética de Minas Gerais], que tem mantido uma vazão constante suficiente para que as bombas consigam trabalhar normalmente”, afirma o responsável pelo SAAE em Carmo do Cajuru.

A Cemig monitora a situação. “Em 11 de agosto, o armazenamento da Pequena Central Hidroelétrica em Cajuru correspondia a 35,3% do seu volume útil. Nos últimos 10 anos (desde 2015), esse volume é a média dos volumes verificados na mesma data, sendo superior aos anos de 2015, 2016, 2017 e 2023, e inferior aos demais. Destacamos que no início de abril desse ano o reservatório atingiu sua ocupação máxima (100 % do volume útil), como é usual ao final do período chuvoso”, explicou a empresa, em nota.

De acordo com meteorologistas, a estiagem ainda deve se estender por mais algumas semanas. Após mais de 120 dias sem chuva em Carmo do Cajuru, já são observados reflexos no volume de água do Rio Pará. “Estamos passando por um período seco bastante severo na bacia, de modo que a vazão afluente (que chega) ao reservatório de Cajuru em julho foi de apenas 18,9% da média histórica, sendo, na realidade, a menor já registrada para esse mês desde 1938”, complementa a nota da Cemig.

A Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural) acompanha com preocupação os efeitos da estiagem prolongada em Carmo do Cajuru. Segundo as medições da empresa, de janeiro a junho deste ano, o volume acumulado de chuva em Cajuru foi de 846 mm – bem menos que o registrado no mesmo período do ano passado, que foi 1016 mm. “Além da diferença em volume, tivemos um problema na distribuição das chuvas. A chuva chegou muito tarde e parou muito cedo, ficou concentrada basicamente em janeiro e fevereiro. Sem a infiltração da chuva, não conseguimos fazer a recarga das nascentes, riachos e lençóis freáticos”, explica Juliano Marcelino, extensionista agropecuário da Emater.

Na zona rural de Carmo do Cajuru, agricultores relatam prejuízos causados pela seca, que prejudica o plantio e a colheita de diferentes culturas. “De maneira geral, os produtores estão preocupados por perceber que as nascentes diminuíram muito a vazão de água, algumas até secaram. Os ribeirões também baixaram bastante. É uma região sensível à diferença na distribuição das chuvas e na quantidade”, complementa Juliano.

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará (CBH do Rio Pará) vê com preocupação a longa estiagem este ano. “Ao mesmo tempo, a gente tem trabalhado para que o Comitê contribua para que tenhamos alguma segurança hídrica nesses períodos. É por isso que estamos investindo forte nos projetos, como o Programa de Conservação Ambiental e Produção de Água, que está em andamento em três microbacias. Com as ações a gente consegue garantir uma reserva de água, tanto em quantidade quanto em qualidade. Além disso, o próprio Plano de Educação Ambiental (PEA) do Comitê tem como ponto forte esse trabalho de preservação para que a gente garanta a água nesses períodos. Só nas ações do PEA o investimento previsto é de cerca de R$ 3 milhões, a curto, médio e longo prazo. O Comitê tem feito o possível para garantir certa tranquilidade nesses momentos de escassez. Não tem como a gente controlar o clima, mas podemos trabalhar no armazenamento da água e a garantia de geração de água em períodos assim”, finaliza Túlio Pereira de Sá, presidente do CBH do Rio Pará.


Assessoria de Comunicação do CBH do Rio Pará:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Ricardo Miranda
*Foto: Bianca Aun; Prefeitura de Divinópolis/Divulgação

Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará

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