Revista do CBH do Rio Pará nº1: Mãos que criam

04/01/2023 - 10:00

A arte esculpida na madeira seguida por três gerações

A arte de entalhar na madeira seguida por três gerações. Com o auxílio de um canivete e um formão, pai, filho e, agora, o neto esculpem em blocos de madeira sua arte. Reconhecidos por retratarem temas regionais entalhados sobre a madeira, o trabalho desses três grandes artistas traz grande precisão simétrica e detalhes ricos, o que transmite uma sensação rítmica pela sucessão de figuras representadas.

Geraldo Teles de Oliveira, conhecido como GTO, foi um artista brasileiro de grande expressão. Nascido na bacia do Rio Pará, em Itapecerica, passou a infância e a juventude em Divinópolis. Com suas esculturas internacionalmente conhecidas, o homem simples criado com pouco aprendeu a entalhar nos fundos da casa onde morava, tendo como ferramenta o canivete que usava para cortar fumo e peças de madeira.

“GTO viveu no mato toda a vida. Quando veio para a cidade, não tinha habilidade para muitas tarefas e, para sobreviver, trabalhava com o serviço braçal, o que debilitou sua saúde. Na década de 1960, sofreu um desmaio e, quando acordou, disse que o Divino [Espírito Santo], em sonho, intercedeu por ele e que gostaria que ele fosse seu instrumento”, conta o neto Alex Pereira Teles.

Foi a partir de então que, ao final de um longo dia de trabalho na construção do Hospital São João de Deus, GTO recolheu um pedaço de madeira jogado na obra e, ao chegar em casa, pegou o seu canivete e entalhou o que viu nos sonhos. A partir disso, começou a fazer peças maiores, obras que ele via em sonhos e concretizava sob a madeira.

Mário Pereira Teles herdou o talento do pai, GTO, 
e o repassou ao filho, Alex. Alex Pereira Teles define o trabalho da família como uma arte única, de sensibilidade: “É a madeira crua e nua entalhada pelas mãos”.

Mário Pereira Teles herdou o talento do pai, GTO, e o repassou ao filho, Alex Pereira Teles, que define o trabalho da família como uma arte única: “É a madeira crua e nua entalhada pelas mãos”.

 

TRADIÇÃO

Sua primeira peça, e a única a receber um nome, foi a “roda da vida”. Presente em diferentes tradições, a roda da vida representa os ciclos da vida e o círculo, também marcante em sua arte, que traz o sentido de unidade, em que todos os povos se encontram entrelaçados.

Das referências da obra de GTO, o filho Mário Pereira Teles e o neto Alex Pereira Teles deram sequência ao trabalho do escultor autodidata. Mário aprendeu o ofício ao lado do pai e, após a morte dele, deu continuidade ao seu legado, hoje repassado ao filho Alex, que segue com maestria o trabalho de transformar madeira em arte.

“Meu avô dizia que fazemos parte de uma trindade artística que iniciou na década de 1960, através de GTO, e repassado para o meu pai, Mário, e agora eu como a terceira geração faço parte desse processo criativo, nomeado por GTO como um dom Divino”, conta Alex Teles.

Um dos trabalhos mais emblemáticos da família é a ‘Roda da Vida’, que traz o sentido de unidade, em que todos os povos se encontram entrelaçados.

Um dos trabalhos mais emblemáticos da família é a ‘Roda da Vida’, que traz o sentido de unidade, em que todos os povos se encontram entrelaçados.

 

ARTE PELO MUNDO

Grande amigo da poetisa Adélia Prado, do músico ex-Mutantes Túlio Mourão, do historiador Lázaro Barreto, do artista plástico Heraldo Alvim, todos esses naturais da bacia do Rio Pará, e de outros de renome como o escritor Carlos Drummond de Andrade os integrantes do Clube da Esquina, Geraldo Teles de Oliveira ganhava admiradores por onde passava. Ficou conhecido internacionalmente pelas suas esculturas que ganharam o mundo e que hoje encontram-se em 144 países.

O artista participou de importantes coletivas no Brasil e no exterior, como Biennale Formes Humaines – Musée Rodin (Paris,1974), 13ª Bienal Internacional de São Paulo – Sala Especial (1975) e a Bienal de Veneza (Itália, 1980). De acordo com o neto, GTO foi premiado em diferentes lugares do mundo pela singularidade de sua arte.

“Hoje suas obras estão espalhadas por 144 países, consideradas como uma obra única. Seguimos esses sonhos que ele deixou e continuamos trabalhando da mesma forma primitiva, com as mãos, sem interferência de maquinário, lixas, cola e pintura. É a madeira crua e nua entalhada pelas mãos. Uma criação única, de sensibilidade”, ressalta Alex Teles.

 

POR GERAÇÕES

Com o aprendizado continuado por Mário, e hoje por Alex Teles, as referências das obras de GTO permanecem vivas. Motivo de orgulho para Alex, que vê no ofício uma forma de escrever sua história. Assim como o avô, em um sonho percebeu que chegou a sua hora de começar a esculpir. Foi então que abandonou sua carreira em uma grande empresa e se dedicou à arte.

“Tenho um orgulho e uma gratidão muito grandes. Apesar da minha formação superior, também ouvi esse chamado e recebi das mãos do meu pai as ferramentas que meu avô deixou, sabendo que um dia eu daria continuidade a esse trabalho. Meu pai reviveu sua história quando me viu dar sequência no que meu avô começou. É a perpetuação da nossa história, que ele viveu na mesa de entalhar junto ao pai dele, e agora vive ao lado do seu filho”, conta.

 


Assessoria de Comunicação CBH Rio Pará:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
Texto: Gabriel Rodrigues
Fotos: Fernando Piancastelli

Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pará

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